ATO 2
(2014 - HOJE)
Arquitetura
Por Guilherme Conrado
Tão chamativa quanto a programação do Cineteatro é a sua arquitetura. Com as luzes acesas, o Cineteatro parece ganhar vida. Sua decoração em art-déco, com formas lineares e geométricas, casa com as diversas cores das laterais internas do local, projetadas por Osório Ferreira e por Marcelino Guido Budini e pintadas pela empresa Shaffer e Harvath.
Inaugurado em 1958, o Cine São Luiz tinha como intenção ser o maior e melhor cinema de Fortaleza. Na época, a competição pelo posto era acirrada, com o Cine Diogo, o Cine Majestic e o Cine Moderno. Os dois últimos também eram localizados na Praça do Ferreira.
Para se destacar, o São Luiz investiu em uma estrutura luxuosa que contava com revestimento de mármore de Carrara, da Itália, lustres de cristais tchecos e uma área total de 2.653 metros quadrados. A capacidade, na época, era de 1300 lugares na plateia.
O arquiteto e engenheiro civil Humberto da Justa Menescal foi o responsável pelo projeto de construção. As obras começaram em 1938, onde anteriormente ficava o Cine Polytheama. Terminada a Segunda Guerra Mundial, a construção foi retomada somente em 1952, com a entrega final para o público seis anos depois.
O cinema logo se tornou referência na cidade. No início, as sessões não eram destinadas a todos os públicos, para entrar no São Luiz, suas roupas deveriam ser tão luxuosas quanto o espaço. O estilo chamava a atenção de quem andava pela Praça do Ferreira.
Mauro Coutinho foi um dos convidados para a primeira sessão do São Luiz. Radialista na época, ele se impressionou tanto com a beleza do cinema quanto pelos frequentadores. “Quando ele inaugurou, tinha um cine de porte menor ao lado que se chamava Cine Moderno. Com isso, o Cine Moderno escasseou-se, né, e o São Luiz passou a ser a referência para as pessoas irem passear, pra passeio, pra assistir cinema. Era um passeio de elite, que você tinha pra ver... Era uma maravilha você ficar ali esperando entrar para a sala de projeção porque era um desfile de moda, era uma coisa louca, linda.”
Após os tempos de ouro, veio a queda. Com os novos shopping centers de Fortaleza, o São Luiz perdeu espaço no cenário audiovisual. Tombado em 1991, o local ficou inativo por décadas, até o prédio ser comprado pelo Governo do Estado, em 2011.
O projeto de reforma do cinema ficou a cargo dos engenheiros, Paulo Renato e José Cardoso, do restaurador José Luiz Motta e do arquiteto Robledo Duarte. As obras começaram em dezembro de 2013, e terminaram no mesmo mês, em 2014.
Para Robledo, os maiores desafios do projeto foram a recuperação do aspecto arquitetônico do local e trazer a nova função teatro para o cinema. “Nós passamos 4 meses aqui no são luiz fazendo levantamento arquitetônico, levantando a parte arquitetônica, levantando a parte elétrica, hidrosanitária, de ar condicionado, e a partir disso a gente começou a montar o projeto… De obras foram 15 milhões de reais. Só pra ter uma ideia, metade desse orçamento tá no palco. Por que? Pra parte de som, caixas, iluminação.”
O arquiteto considera que o maior desafio, atualmente, é manter o equipamento ativo, com um bom índice de apropriação do local por parte da população. Muitos dos espaços que já fizeram parte do circuito clássico de lazer da cidade foram fechados por uma crescente falta de engajamento público.
Para Robledo, o São Luiz é um modelo de sucesso nesse sentido. “A coisa mais triste pra um arquiteto é você fazer um projeto que depois não tem uso, e a maior alegria que você pode ter é as pessoas terem uma relação com o projeto que você fez. E isso a gente pode ver aqui no Cine São Luiz, que cada mês que passa, aumenta a plateia e aumenta também a formação de plateia, isso que eu acho que é importante no trabalho da gente”.